Eu tinha apenas 4 anos quando minha mãe me levou a praia, não lembro muito bem de como foi aquele dia, só me lembro de uma coisa: As ondas.
As ondas me deixavam fascinado, seu jeito lindo de se formar, até mesmo quando elas quebravam na praia. Aos 7 anos minha mãe deixava eu ficar no raso, sempre imaginei como seria ir mais além, não gostava daquele limite.
Nos meus 14 anos a praia não me fascinava tanto quanto antes, era como se eu fosse obrigado a ir...As coisas mudam com o passar do tempo, e ele passa tão rápido, que quando você pensa que seus brinquedos são seus melhores amigos, você já está velho demais para eles.
Falando um pouco mais sobre mim, bom, meu nome é James Tayler, sou alto, cabelos negros , olhos castanhos e uma postura não muito boa. Neste exato momento estou com 19 anos, como ja tinha dito, muitas coisas mudaram na minha vida, por exemplo, meus pais se separaram, me mudei para um apartamento com minha mãe, minha irmã mais nova e meu cachorro que esta com exatamente 15 anos, sim é bastante tempo para um cachorro...Minha mãe se chama Diana Kley, solteira, cabelo loiro, olhos verdes e um rosto de modelo, sim eu não puxei quase nada dela...Minha irmã mais nova se chama Rebecca Tayler,14 anos, cabelo loiro, olhos castanhos, gosta muito de livros, passa quase que um dia inteiro dentro de seu quarto lendo.
Na escola eu era tipo: o garoto invisível. Ninguém gostava de ficar perto de mim, nem mesmo falava comigo, o que me salvava era meu melhor amigo do mundo todo! Mike sempre me fazia rir quando eu estava na pior, Mike gostava das mesmas coisas que eu, jogávamos vídeo-game, fazíamos academia, tentávamos conversar com garotas, na maioria das vezes sem sucesso. Meu pai morava fora do país, ele morava na Colômbia com minha madrasta, que até era legal.
Um dia Mike e eu combinamos de ir a praia, que a muito tempo eu tinha perdido o interesse. Mergulhamos, nadamos, ficamos queimados pelo sol, parecíamos dois camarões. Até que bateu a fome. Mike e eu fomos procurar um quiosque para comprar algo para comer, e encontramos um com diversas opções de cardápio. Mike comeu três porções de camarão sozinho, enquanto eu comi um hot-dog, que inclusive estava tão ruim que eu nem terminei de comer tudo.
Saindo do quiosque Mike corre em direção a água. Dei um grito na mesma hora, avisando para não entrar na água, por que tinha acabado de comer. Mike não entendeu o que falei pois estava muito longe, e assim entrou na água. Nadou até certo ponto do mar e mergulhou...Eu de longe não tive reação ao ver ele mergulhando. Mike demorava para subir a superfície, e então fui correndo em direção ao mar, até que finalmente aparece...Mike desesperado gritando por socorro, novamente fiquei sem reação...eu só conseguia gritar por ajuda.
Mike teve cãibra em sua perna esquerda, e desmaia, assim afundando novamente. Mergulhei em sua direção, mais já era tarde. A corrente leva Mike, o jogando contra o paredão de pedras, Mike foi quase que esmagado. Saí correndo pra procurar ajuda, até que achei um salva-vidas, e contei tudo pra ele.
O corpo de Mike não sofreu muito dano, os médicos disseram que ele só tinha uma fratura no braço direito e uma pequena rachadura no crânio. Foi o dia mais triste da minha vida... ver meu melhor amigo, ou melhor um irmão sendo levado para baixo da terra.
Um ano se passou e até hoje me pergunto...As ondas levaram meu amigo por ciumes? Por eu ter deixado elas de lado e arranjado um amigo de verdade? Dia após dia eu visitava a praia, aquele mesmo lugar,onde fiquei parado vendo meu amigo sendo tirado de mim. E sempre que eu lembrava dele pedindo socorro eu não aguentava e chorava. Eu não trabalhava, não estudava mais, não fazia nada da minha vida. Eu tinha planos com Mike, ele seria Médico e eu Advogado.
Aos poucos fui me aproximando novamente do mar...quando criança eu era fascinado pelas ondas, agora mais velho o que me fascina é: por que algo tão lindo pode ser capaz de tirar a vida de alguém? Fui lembrando de quando mais jovem, minha irmã brincando na areia de baixo de um guarda-sol, minha mãe e meu pai se beijando sentados junto a minha irmã, e eu na água olhando para as nuvens no céu, tentando formar figuras de animais, e ao meu lado uma criança puxando meu braço, não conseguia lembrar quem era aquela criança...Toda vez que tentava lembrar quem era me vinha na mente um grito de socorro, e então eu me assustava.
Voltava da praia por volta das cinco da tarde. Chegava em casa, tomava banho, ia até a geladeira e via o que tinha para comer, acabava que não comia nada...ia para cama, fechava o olho e imaginava minha vida perfeita.
Certo dia de manhã minha mãe bate na porta do meu quarto, como eu não havia respondido ela entrou. Ao entrar no quarto ela se depara com uma cena nada comum... a cama bagunçada, minhas roupas espalhadas pelo quarto, a televisão fora do ar, e eu deitado no chão como se tivesse levado uma surra. Minha mãe desesperada me levanta do chão e me põe na cama e me pergunta, ja com um semblante de choro, o que tinha acontecido e por que eu estava jogado no chão. Não conseguia nem falar...então peguei minha mochila e sai.
Fui caminhando até chegar no shopping, passava de loja em loja sem ao menos parar. Saio do shopping em direção ao Parque da cidade, e me sento num banco. Olho de um lado para o outro, vejo mendigos bebendo como se fosse o ultimo dia de suas vidas, vejo crianças brincando no parquinho, mães admirando suas crianças interagindo uma com as outras, mas uma cena me chama a atenção...uma garota abaixada no meio do parque segurando um passarinho com a asa quebrada. Fiquei ali olhando para ver se algo acontecia... ela levanta e vai em direção a rua. Ela era muito bonita, cabelos longos e negros, olhos azuis, pele branca como a neve, e não era a branca de neve, tinha um sorriso perfeito.
Depois de atravessar a rua ela some, então fiquei ali esperando ela voltar, mais ou menos umas duas horas. Se passam duas horas e meia, e nada dela aparecer... peguei minha mochila e levantei, no mesmo momento minha mãe me liga, dizendo que estava preocupada e para não voltar muito tarde para casa.
Apesar de não conhecer aquela moça, algo nela confortava meu coração. Não conseguia explicar o que em especial nela me deixava tão leve, tão confortável. Voltei para casa, minha mãe estava me esperando na sala. Ao olhar em meus olhos, ela conseguia ver a paz voltando a minha mente, então sem ao menos dizer uma palavra, ela me abraça e me dá um beijo na testa. Então fui pro meu quarto.
No outro dia de manhã, minha mãe bate na porta outra vez, e eu não estava mais la, algo chama sua atenção...meu quarto estava todo arrumado, até mesmo a cama. Estava no parque no mesmo banco, na esperança de encontra-la por la mais uma vez. Esperei quase que o dia inteiro, e nada dela aparecer. Peguei minha mochila e fui embora, e sem querer desviei meu caminho para a praia.
Sentei na areia no mesmo lugar de sempre, o vento soprava em meu cabelo...era uma sensação tão boa...Olhava para o mar e não ouvia aquele chamado de socorro que outrora escutava. E então eu relaxei e me deitei na areia, e ali mesmo peguei no sono, cheguei até a sonhar, uma coisa que eu não conseguia a meses. Acordo com um beijo na testa, abro o olho bem devagar, e enxergo minha mãe, que estava ali olhando para mim com um olhar de felicidade. Minha mãe não gostava de ver nenhum de seus filhos sofrendo, só de ver que eu finalmente tinha conseguido dormir em paz, ela se emocionava.
Então minha mãe me chamou para ir embora para casa, eu disse a ela que não e eu queria ficar ali mais um tempo...então ela foi embora. Fiquei la sentado mais algum tempo, até que começa a chover... Sai correndo para baixo de uma cobertura de um quiosque, que por coincidência era o mesmo quiosque que eu e Mike havíamos lanchado no dia em que ele morreu. Me lembrei que ele gostava de camarão, e se eu tivesse impedido dele comer tanto, talvez ele pudesse estar ali de baixo da cobertura comigo.
A chuva passou, então fui correndo para casa. Chegando em casa vejo minha mãe conversando com um homem estranho na frente do apartamento, fiquei olhando de longe...
Minha mãe sorria e dava risada, até que ela me vê do outro lado da rua, e me chama. Ela me apresenta ao homem como seu filho mais velho, e eu ficava encarando ele me perguntando quem era essa pessoa e por que minha mãe estava conversando com ele na frente de casa.
Ele diz que seu nome Mark Benne, me apresento como James Tyler, e ficamos nos encarando mais ou menos uns 4 minutos, até que minha mãe interrompe e pede pra eu subir para casa, por que precisava falar com Mark a sós. Eu entendia que minha mãe precisava de um companheiro, mas porque escondeu isso de mim? Se eu não tivesse flagrado eles juntos, ela não me contaria? Fui até o quarto de Rebecca, ela já estava dormindo, então fui para meu quarto, tranquei minha porta e me deitei, e fiquei imaginando minha mãe casada com aquele homem, imaginei nossas vidas com mais um membro... isso só me deixava mais confuso, e os gritos voltaram para minha cabeça, e já vinha a memória de Mike se afogando em minha cabeça.
Mais uma noite sem dormir, mais pensamentos na minha cabeça, tanto novos quanto antigos, me vem mais uma vez a memória de minha irmã brincando na areia da praia, meus pais se beijando, eu na água olhando pro céu e ao meu lado aquela criança sem face, que não conseguia lembrar quem era, e de novo me vem o grito de socorro!
Pego minha mochila e saio de casa direto para aquele parque...meus olhos pesados de sono, quase que não enxergava nada, de longe vejo aquela garota...em suas mãos vejo algo impressionante: Era aquele pássaro com a asa quebrada, mas a asa dele já estava melhor. Então a garota vai até o centro do parque e o solta, o pássaro sai voando como novo. Quando me dei por si, eu já estava ao lado dela observando o pássaro.
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